Por Mariela Assmann e Silvia Maria Louzã Naccache, via Observatório do Terceiro Setor

“Um modelo transformador de voluntariado centra-se na mudança que ocorre tanto em quem pratica como em quem recebe a ação. Promove no voluntário o sentimento de pertencimento, rompe barreiras e conecta pessoas.” Chris Jarvis/ Realized Worth

Foi na década de 1990, quando as empresas começaram a falar em “cidadania empresarial”, divulgar as práticas de responsabilidade social corporativa e de investimento social privado que o voluntariado empresarial passou a ganhar força e destaque. Segundo o Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial, o CBVE, voluntariado corporativo é uma iniciativa de responsabilidade social de empresas, visando incentivar, organizar, apoiar e reconhecer ações voluntárias de participação cidadã de seus profissionais e demais públicos de relacionamento, em prol da sociedade.” Isto é, o apoio formal e organizado de uma empresa a seus empregados que desejam servir voluntariamente a uma causa, organização, comunidade.

Mas afirmar que o impacto dessa iniciativa fica circunscrito à responsabilidade das empresas perante a sociedade e ao impacto que as ações têm na imagem que a comunidade tem da corporação seria limitar o poder do voluntariado.

Uma prática e ferramenta que quando bem implantada, planejada e acompanhada promove transformações e impactos bastante relevantes tanto em quem recebe a ação, mas também nos que praticam. Uma estratégia e oportunidade de treinamento, desenvolvimento dos funcionários e também de aumento da produtividade, uma vez que durante a atuação social há o desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades profissionais que serão utilizadas no ambiente de trabalho, tais como o trabalho em equipe, a comunicação assertiva e não violenta, a criatividade, entre outras.

Outro ganho das empresas com a implantação de programas de voluntariado é a melhoria do clima organizacional: segundo o estudo Além do Bem, promovido em 2017 pelo Bank of America Merrill Lynch em parceria com a Consultoria de Engajamento Santo Caos, 33% dos colaboradores que participaram de ações de voluntariado empresarial afirmam que mudaram sua visão de mundo e aumentaram sua empatia.

Um Programa de Voluntariado Empresarial que se alinha à missão e aos valores da empresa pode ser extremamente relevante e eficiente para promover questões de diversidade e inclusão. A pesquisa Além do Bem aponta ainda que funcionários que participam de programas de voluntariado são 16% mais engajados do que aqueles que optam por não participar dos mesmos e que 70% dos colaboradores/voluntários sentem que têm voz ativa dentro da empresa, o que impacta positivamente em seu senso de pertencimento. Por fim, conclui que colaboradores que participam dos programas de voluntariado são 31% mais conscientes do que aqueles que não participam, uma vez que eles entendem melhor os valores e posicionamentos da empresa e das pessoas.

O voluntariado pode ser a ferramenta para o desenvolvimento de colaboradores mais engajados e confortáveis, potencializando no ambiente corporativo práticas e condutas de diversidade e a inclusão, o que acabará criando gerando ainda mais engajamento e melhorando o ambiente de trabalho, num verdadeiro ciclo virtuoso. Exemplificativamente, em 2020 a Consultoria McKinsey publicou o estudo Diversity Matter, que analisou o cenário da diversidade na América Latina, através da análise de dados de cerca de 700 empresas e concluiu que funcionários de empresas tidas como comprometidas com diversidade e a inclusão têm 11% mais de probabilidade de “poder ser quem são” no ambiente de trabalho, o que afeta diretamente sua satisfação e produtividade.

Praticar o voluntariado é fazer parte da construção de um ambiente diverso, conectar-se com realidades distintas do próprio dia a dia e convívio. É participar de um encontro em mundos diferentes em seus aspectos culturais, sociais, econômicos, religiosos; ter grandes oportunidades de aprendizado e de promoção dos temas gênero, raça, pessoa com deficiência, geracional, LGBTQIA+, entre outros. O trabalho voluntário promove encontros, muda posturas e valoriza o diálogo e condutas de respeito e inclusão.

*

Sobre as autoras:

Mariela Assmann – trabalha há 4 anos no Terceiro Setor, nas áreas de Voluntariado, Projetos Sociais e Diversidade e Inclusão. Formada em Ciências Jurídicas e com MBA em Gestão de Projetos Sociais e Voluntariado,

Silvia Maria Louzã Naccache – consultora e palestrante na área de voluntariado, terceiro setor e desenvolvimento sustentável. Coordenou por 14 anos o Centro de Voluntariado de São Paulo.

Foto: rawpixel.com via Freepik

Fonte: https://observatorio3setor.org.br/colunas/silvia-naccache-voluntariado-e-transformacao-social/voluntariado-empresarial-diversidade-e-inclusao/